Tradições

 

 

As Desfolhadas

    Em tempo de desfolhadas, a lida começava ao raiar do dia.Com alegria de outros tempos cortava-se o milho, que era transportado em carros de bois para casa dos lavradores, era virado na eira, preparava-se o local com rolos de madeira e tábuas a fazer de bancos para os convidados. A noite toda gente se juntava em roda a volta do enorme monte de espigas a desfolhar, as espigas eram colocadas em cestos, enquanto desfolhavam o milho cantavam com alegria. No monte das espigas havia a espiga rainha (espiga vermelha) quem a encontra-se dava um beijo ou um abraço a toda a gente, era um momento alto da desfolhada, também apareciam mascarados e participantes na desfolhada tentava adivinhar quem era o mascarado. No final havia uma ceia, era uma forma de agradecer a ajuda prestada. Na altura das colheitas valorizavam-se muito o trabalho comunitário, nas trocava-se trabalho por trabalho.

 

 

As Vindimas      

     Ainda o sol não espreitava e já vindimadores de escada ao ombro, cesta, e tesoura à cinta, chegavam a casa dos senhores da vindima.

    A juntarem-se a eles, as cesteiras alegres e bem-dispostas de roupa colorida e (sogra) na cabeça         

     Amanhecia e começava a vindima. Os homens deitavam as escadas nas ramadas e nos bardos, onde as videiras se entrelaçavam, e iam colhendo as

    uvas para as cestas.

      Junto dos vindimadores as mulheres das cestas sempre prontas para as despejaram nos cestos vindimeiros (feitos de verga de castanho).

       Cestos cheios eram levados à cabeça pelas cesteiras ao lagar. Atrás dos vindimadores as mulheres dos bagos “nada se perdia”.

        Na beira do lagar havia uma tigela de barro, onde as cesteiras deitavam um bago por cada cesto despejado, assim se fazia uma estimativa das   pipas de vinho, pois cada cesto se a (bago) fosse boa rendia mais ou menos um almude de vinho (25l) a pipa (500l).

        As cesteiras a caminho do lagar cantavam alegremente e os vindimadores, quando estas se atrasavam ou por simples tratantada (malandrice) gritavam: _ Cesteiras! Cesteiras! …

    A meio da manhã era servido pelo dono da vindima o (mata-bicho), broa de milho e aguardente.

    O almoço da vindima por volta das duas horas da tarde (massa de tomate com feijão e sopas de trigo confeccionada à lareira em grandes potes de ferro - chamados os potes da vindima ou da matança do porco).   Antes de entrar no lagar o célebre arroz de bacalhau . Regra geral toda a rapaziada nova e alguns menos novos entravam no lagar para pisarem as uvas; embalados pelo som dos acordes da concertina e de cantigas ao desafio.
     No final do lagar era oferecido um petisco (aletria quente) mediante as posses de cada um, seguia-se o bailarico onde reinava a boa disposição; brincadeira; alegria e algum namorico:
     Dizem os mais antigos:
    ”Até ao lavar dos cestos ainda è vindima” e apesar de não haver tanta fartura e ajuda mecanizada, como eram alegres e divertidas as vindimas de antigamente! 

  

A Matança do porco

O dia da matança do porco é uma grande alegria, mas ao mesmo tempo vive-se em grande azáfama.
As pessoas andam em roda-viva, umas à volta dos potes, outras à lareira para cozer o verde e as bicas, enquanto os homens lavam e abrem o bicho.

 Também no mesmo dia se preparam as chouriças de sangue que levam: farinha milha, sal, salsa picada e os pedaços de carne mais gorda retirados nesse mesmo dia do porco.

 Depois é só enchê-las com um funil pequeno e com a ajuda de uma colher de pau quando enchidas lavam-se com água morna, põem-se a escorrer e finalmente colocam-se ao fumo para secar.

 As tripas devem ser lavadas em água corrente e esfregadas com sal e limão. Depois eram cozidas em água sal e loureiro e enchiam com a ajuda do pau de virar tripas com farinha milha, cominhos e pimenta.

No dia seguinte à matança, logo pela manhã aparece o matador para desmanchar o bicho.

As carnes são salgadas com vinho tinto, alho, pimenta e sal e colocadas na salgadeira. Daí se retira as fêveras que são passadas nesse molho e colocadas nas brasas para assar que serve de mata  bicho para todos os que estão presentes.

Nesse mesmo dia cortam-se as carnes para a confecção das chouriças que ficam em tempero durante oito dias.

Ao almoço prepara-se o famoso sarrabulho com as miudezas do porco e o sangue, os rojões, o verde e a tripa enfarinhada.

No dia em que se desmancha o porco, coloca-se o presunto dentro de um balde de madeira coberto com sal, permanece na salmoura durante vinte dias. Ao fim desse tempo, retira-se, lava-se muito bem em água corrente até retirar todo o sal "tem que ficar bem seco", para poder ser barrado com uma papa que é feita com colorau picante e azeite.  Coloca-se ao fumo para acabar de curar.

Também as chouriças são colocadas ao fumo para secarem. Estamos a falar apenas das chouriças de carne e de sangue, mas para além destas existem outras variedades de enchidos tais como: chouriça de cebola, chouriça de arroz, e as farinheiras, estes enchidos são ainda hoje a riqueza e património da nossa terra.